segunda-feira, 4 de maio de 2009

...Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa reçação.

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio.As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos,na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto,e não mais uma relação de dependência,em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar. A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente,tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características,para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo,e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência,e pouco romântica, por sinal. A palavra de ordem deste século é parceria.Estamos trocando o amor de necessidade,pelo amor de desejo.Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso,o que é muito diferente. Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras.O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração.Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma.É apenas um companheiro de viagem. O homem é um animal que vai mudando o mundo,e depois tem de ir se reciclando,para se adaptar ao mundo que fabricou.Estamos entrando na era da individualidade,o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria;ele se alimenta da energia que vem do outro,seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor,tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros,e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso.Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas,são muito parecidas com o ficar sozinho,ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único.Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes,pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo,e não à partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças,respeitando a maneira de ser de cada um. O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego,o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém,algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo... Flávio Gikovate

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